quinta-feira, março 30, 2006

também posso ir?

terça-feira, março 28, 2006

I dont kiss strangers. Neither do I


Tenho vestida uma camisa branca. Arranquei-a da cadeira antes mesmo de tomar o banho. É por causa do cheiro, o cheiro que deixo na roupa e que me lembra o seu olhar todas as vezes que o sentia. Caiem as pálpebras, recolhem os dentes e depois das mãos recuperarem o meu corpo, há o momento do silêncio em que o meu perfume lhe enche a cabeça. A minha camisa tem esta memória porque sou egoísta. É mais fácil encarar a saudade num bocado de roupa do que numa fotografia ou rosto.
A campainha já tocou mas o chá é mais importante. Onde é que aprendi a gostar tanto de chá? Acho que foi por altura de uma paixão e de um sabor constante. Beber chá ao lado de um amor velho. De cores antigas. Cinzentas. Não é bonito? Bonito e reconfortante como a cama quente onde nos deitávamos só para ficarmos. O chá tem o mesmo tempo de se perder como o tempo que perco a pensar nessa cama.
A campainha tocou novamente. Vou ter de me levantar deste banco. Anda. Anda, anda lá. A câmara fotográfica está mesmo junto à chávena. Tenho de trabalhar e ainda nem sequer escolhi a lente. Deixo para depois do rosto aparecer. Mais um escritor? Mas a escrita está ainda na moda? Não sabia. Eu deixei de ler desde que ele se foi embora. Será rancor? Tristeza não é, tenho a certeza, pois sei que o hábito cria ilusões. O amor ainda não é da minha fé. Abro a porta.
Parece gay. Talvez seja do cinema. Nova Iorque. Sim e a Times Square cheia de gente e barulho colorido. Deve ser de Nova Iorque porque está tão sozinho como o vendedor de bagles que me estendeu uma com cream cheese. Dan, olá o meu nome é Anna: entre e deixe-se estar à vontade. Um chá? É vermelho, da África do Sul. Sem cafeína, passo o dia a beber. Com ou sem açúcar?
Dan senta-se à frente do tripé. Uso tripé ou não uso tripé. Depende da minha mão. Só porque me voltei a lembrar dele, tenho mesmo de usar o tripé. Meter conversa? Tem de ser. Faz parte do job. Li o seu manuscrito. Sim, o editor enviou-mo. É habitual quando tenho de fotografar algum autor. Não, não achei enfadonho. Li-o a noite passada. Fiquei acordada até às 4 da manhã. E ouvi Bebel Gilberto. Quase me apaixonei por si, sabia? Pensamentos possíveis. Só na minha cabeça. Apaixonar-me por um estranho que me faz ouvir músicas e ler frases cruas. E cinema, e rodear o meu espaço de cenas de cinema. Dan, desculpe, pode virar-se para a esquerda, sim? Obrigada. Perfil correcto, olhar triste. Dan, desculpe, pode dizer-me se anda à procura do amor? Sim? Obrigada. O amor, acha que também se paga? Anna, sim, Anna. Sim, tenho uma exposição marcada para o próximo ano. O seu livro também sai no próximo ano? Ok. Já terminei. Ele aproxima-se. Aproxima-se. Beija-me e diz-me que me quer ver. A música? A já partilhada, antes mesmo de o conhecer? Balança na minha cabeça. Está mesmo a acontecer? Afinal, o que é que eu tenho vestido? A mesma camisa branca de ontem à noite que tem o meu cheiro e a memória de saber que num beijo assim estão os lábios do amor. Desconhecido.

recriação livre de uma cena de

"Closer" (2004)
real: Mike Nicols

segunda-feira, março 27, 2006

bilhete reservado


Ter. [28] 21:30 Sala Dr. Félix Ribeiro

PIER PAOLO PASOLINI: O SONHO DE UMA COISA

MAMMA ROMA
Mamma Roma de Pier Paolo Pasolini
com Anna Magnani, Ettore Garofalo, Franco Citti
Itália, 1962 - 110 min / legendado em francês
Segunda longa-metragem de Pasolini, MAMMA ROMA prolonga as opções de “mise en scène” e o universo de ACCATTONE. Trata-se da história de uma
mulher que abandona a prostituição para viver com o seu filho adolescente, mas tudo terá um fim trágico. Se a primeira parte do filme é marcada pela
presença poderosa de Anna Magnani (que se entusiasmara por ACCATTONE e quis trabalhar com Pasolini), a segunda concentra-se sobre o filho, incarnado
por um actor amador. Com este filme, fecha-se o período da obra de Pasolini que reata com alguns elementos do neo-realismo, que ele considerava
“o primeiro acto de consciência crítica” do cinema italiano.

(Fonte: Cinemateca Portuguesa)

sábado, março 25, 2006

when did you leave heaven..............................

sexta-feira, março 24, 2006

one from the heart - a tour from lisbon to NYC


New York and me. Just like a movie.
http://www.jorgecolombo.com/

quinta-feira, março 23, 2006

E é uma espera,
como se tal maçã aguardasse a mordida e a luz procurasse o meu túnel.
Uma espera que dura
meio segundo
e eternamente
nas
asas do meu desejo.

"As Asas do Desejo" (1997)
real: Win Wenders

quarta-feira, março 22, 2006

Hoje estou
como de um dia para o outro.
Passagem aérea entre o riso
e o fim.
Azul
e pintado em cal.

Cai o pó.
Arranho as paredes.

"O Paciente Inglês" (1996)
real: Anthony Minghella

terça-feira, março 21, 2006

Eu quero, e tu?

"Todo o anjo é terrível. E contudo - ai de mim -
eu vos invoco com o meu canto, aves quase mortais
[da alma,
por saber quem vós sois.
(...)"

Rainer Maria Rilke
(editado em Poemas de Amor colectânea de poesia Alma Azul)

Feliz dia da Poesia

quinta-feira, março 16, 2006


Hoje, quero ir!

quarta-feira, março 15, 2006

Quero saber de que côr
é feito teu abraço, azul e cinzento como o mar que me atinge
laranja mel como o sol que me nasce
vermelho vivo como o sítio onde te guardo.

Quero saber de que côr, o rosto que me diz da lua e da vida, e da espera e do momento.
Quero saber de que côr
é a verdade de te ter.

"A Idade da Inocência" (1993)
real: Martin Scorcese




"C'est là un bien mystère. Pour vous qui aimez aussi le petit prince, comme pour moi, rien de l'univers n'est semblable si quelque part, on ne sait où, un mouton que nous ne connaissons pas a, oui ou non, mangé une rose..."

Le Petit Prince
Saint-Exupéry

segunda-feira, março 13, 2006

A Soma dos Afectos

(...)
"Porém eu procuro-te.
Antes da morte se aproximar, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te."

As Palavras Interditas
Eugénio de Andrade

sexta-feira, março 10, 2006

Só estou aqui
porque a carne apodreceu
e os bichos voltaram
e o sexo adormeceu.

"Intimidade" (2001)
real: Patrice Chéreau

sábado, março 04, 2006


"Ameaço o teu mundo, Alexandre?"












do filme "A Eternidade e um dia"
(Palma de Ouro - Festival Cannes 1998)
real: Theo Angelopoulos

sexta-feira, março 03, 2006

Este ar que me atormenta, do peso escuro
que é a memória.

Já respirar
não sei, à espera da nevoa
lenta.

"Fa yeung nin wa" (2000)
"2046" (2004)
real: Kar Wai Wong
act: Tony Leung Chiu Wai, Maggie Cheung
Apetece-me ficar com isto aqui registado. Para não me esquecer. http://ocodigodesantiago.blogspot.com/2006/03/cavaleiros-andantes.html

quarta-feira, março 01, 2006

E se o jornalismo servir mesmo para informar..?

No filme "Boa Noite e Boa Sorte" recupera-se um dos momentos mais dramáticos
da história recente da América.
A Guerra Fria e a psicose da perseguição aos comunistas instaurada plo senador McCarthy e a forma como a redacção de jornalistas da CBS conseguiu desmontar vários casos de pessoas acusadas de colaborar com organizações comunistas, através das incongruencias da própria acusação.

Escolheu o realizador George Clooney..
imagens de arquivo do Senador Joseph McCarthy, optando por não usar nenhum actor para encarnar o papel do famoso caçador às bruxas.
McCarthy surge ele mesmo em discurso directo, o que remete o filme para o tal género híbrido entre o documentário e a ficção.

"Boa Noite e Boa Sorte"
com David Strathairn,
George Clooney e Robert Downey Jr.
Mais do que um filme sobre jornalismo, é esta uma abordagem sobre o instrumento que é a televisão, uma canal de esclarecimento de um povo.. ou mera caixa de diversão.
"Somos
A triste opacidade dos espectros futuros."


S. Mallarmé

Também Pessoa leu e eu agora,
só porque recebi um afecto.

"A minha vida sem mim"



Haverá tempo?
Haverá tempo de ir devagarinho ao som do teu silêncio,
espreitar leve tom de cinza
de quem tem receio da vida e
permanence presente.

Haverá tempo de sentir calor de um dedo apressado
em rosto branco de espanto
e saudade.
Haverá tempo e sorte
ou lugar ditado para ser mais e um movimento.


"A minha vida sem mim" (2003)
Realização - Isabel Coixet
Act - Sarah Polley, Amanda Plummer, Mark Ruffalo, Maria de Medeiros