sexta-feira, junho 16, 2006
segunda-feira, junho 12, 2006
Arrenda-se
Apartamento de 23 metros quadrados, 5º andar sem elevador. Casa de banho com águas correntes, sem esquentador nem banheira. Varanda aberta, estendal de roupa virado a sul. Soalho de madeira antiga por encerar, portas verdes a faltar a tinta. Paredes brancas e tectos com teias de aranha. Rodapés com caruncho. Cozinha junto à sala, separada por um cortinado vermelho. Lava-loiça em pedra, fogão de dois bicos, sem forno. Quarto com cama de ferro e colchão asseado. Atoalhados e lençois limpos, uma vez por semana. Duas almofadas e uma manta de retalhos. Sofá e flores de plástico em cima da mesinha de entrada. Fraca rede de telemóvel.
Sem vizinhança.
Contacto?
Sem vizinhança.
Contacto?
sexta-feira, junho 09, 2006
segunda-feira, junho 05, 2006
a alma no tecto
"Raiz di Polon"
nova dança de Cabo Verde
Direcção: Mano Preto
Residência artística: Escola Superior de Dança
Lisboa (Maio/Junho 2006)
É nos meus pés que está o primeiro movimento.
Os dedos mais pequenos estendem o corpo que começa a acordar. Sentada no chão, as pernas descansam.
Mas há um sopro do meu ritmo, aquela contracção interna que as levanta, de suspenso.
Devagar, esticar. Continuar. Movimentar o espaço de olhos fechados, de luzes abertas para o rosto em frente.
Estou sozinha. E alcanço o dormente ar quente com as mãos. Ainda nem saí do chão. E abraço. Os braços que tenho.
Puxo. E rodo o corpo para o lado suave e abro o peito e sinto os cardeais pontos e espalho o cabelo e suavizo os dedos e amanho a pele e enrijo lábios.
E os pássaros que voam. Levanto o tronco, apoio de pés e mãos fortes. Já e então à dança dos espelhos! e trajectos repetidos, o mundo e eu em madeira descalça, violências cruzadas, roupa rasgada, gritos de fúria!!
Finalmente livre.
nova dança de Cabo Verde
Direcção: Mano Preto
Residência artística: Escola Superior de Dança
Lisboa (Maio/Junho 2006)
É nos meus pés que está o primeiro movimento.
Os dedos mais pequenos estendem o corpo que começa a acordar. Sentada no chão, as pernas descansam.
Mas há um sopro do meu ritmo, aquela contracção interna que as levanta, de suspenso.
Devagar, esticar. Continuar. Movimentar o espaço de olhos fechados, de luzes abertas para o rosto em frente.
Estou sozinha. E alcanço o dormente ar quente com as mãos. Ainda nem saí do chão. E abraço. Os braços que tenho.
Puxo. E rodo o corpo para o lado suave e abro o peito e sinto os cardeais pontos e espalho o cabelo e suavizo os dedos e amanho a pele e enrijo lábios.
E os pássaros que voam. Levanto o tronco, apoio de pés e mãos fortes. Já e então à dança dos espelhos! e trajectos repetidos, o mundo e eu em madeira descalça, violências cruzadas, roupa rasgada, gritos de fúria!!
Finalmente livre.
sexta-feira, junho 02, 2006
Não se perdeu
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Sophia de Mello Breyner
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Sophia de Mello Breyner
quinta-feira, junho 01, 2006
COMPRA-SE
Edward Hopper (1882 - 1967)
“ Prefiro mulheres talentosas que saibam cuidar dos porcos e das galinhas.”
... que entram os dias
com pouco nada de preocupação
que riem
ao largo das águas dormentes...
que sonham três dias
de vida ausente.
Prefiro mulheres
sem mãos de vontade
sem poros abertos
nem cheiros presentes.
Nem esperam.
Nem sabem. Ser felizes.
“ Prefiro mulheres talentosas que saibam cuidar dos porcos e das galinhas.”
... que entram os dias
com pouco nada de preocupação
que riem
ao largo das águas dormentes...
que sonham três dias
de vida ausente.
Prefiro mulheres
sem mãos de vontade
sem poros abertos
nem cheiros presentes.
Nem esperam.
Nem sabem. Ser felizes.